Extremismo, conservadorismo e preconceito no Metal Brasileiro



Não é fácil cortar a própria carne, mas é preciso. Devemos lançar uma luz reflexiva sobre a atual cena da música pesada e os desdobramentos que estão fazendo parte do movimento. Pois com a polarização política que o país vem sofrendo, uma parcela significativa dos headbangers se alinhou com uma agenda política de valores de extrema-direita, que prega o ódio às minorias e que flerte com o que há de mais retrógado na sociedade: um conservadorismo eivado de preconceito.
Quantas bandas de pretos há no cenário? Quantas bandas formadas por mulheres? Quantas bandas formadas por índios? Por homossexuais? Poucas, muito poucas. O Metal de uma forma geral, não apenas o brasileiro, é o espaço do homem branco, hétero, que tem uma exaltação pela cultura europeia, reproduzindo valores de uma cultura eurocêntrica, patriarcal e anacrônica, que quase não abarca a nossa época e o nosso modo de ser. Porque quase não há bandas que fazem a análise histórica e sociologia do Brasil em suas letras, há pouquíssimas bandas e pouquíssimos trabalhos com os aspectos culturais brasileiro, há um culto desenfreado ao que vem de fora. Um pensamento colonizado, que não consegue ver a força que a nossa cultura tem.
Como não bastasse tudo isso, o Metal não é um lugar democrático, é um ledo engano achar isso. Peguem as principais bandas do país e observem o estereótipo ali presente, num simples golpe de vista você consegue visualizar o que estou falando. O próprio headbanger é o responsável pela segregação dentro do próprio segmento, vide o que aconteceu com a banda Nervosa, grupo formado por mulheres e que recentemente teve a saída de duas integrantes.
Não era para ser diferente, o Brasil é um dos países onde mais há mortes de mulheres no mundo, onde a estrutural social é pautada em valores retrógados e que há uma forte presença do patriarcalismo e como este se espraia por nossas relações. Isso se reflete na forma como o assunto sobre a banda foi comentado em páginas da internet. Muitos comentários sexistas, desvalorização das integrantes por serem mulheres, torpeza.
A banda vinha numa ascendente, consolidando o seu nome não apenas no Brasil, mas mostrando a força do Metal Brasileiro lá fora, aliás, mostrando a força feminina num ambiente ocupado por homens. Contudo, Fernanda Lira (baixista e voz) e Luana Dametto (bateria) deixaram a banda, ficando apenas Prika Amaral, guitarrista.
O que seria algo natural e rotineiro na vida de bandas de Rock: a saída de componentes, serviu de motivo para a “macharada” começar a destilar ódio e fazer comentários vulgares acerca das meninas do Nervosa. Disseram que o grupo não tinha qualidade musical, que as meninas eram “gostosinhas” e que ainda estavam na ativa por isso. Ofensas e mais ofensas, comentários misóginos, machistas, preconceituosos... A saída de Fernanda e Luana mostrou que o espaço metálico ainda é um lugar cheio de ranço e retrógado, que precisa ser discutido.
Claro que muita gente defendeu as meninas do Nervosa, isso não pode ser negado, mas o que ficou claro nesse episódio: Há uma forte parcela do Metal Brazuca que é extremista, conservadora e preconceituosa.

Evilásio Júnior



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