Qual é o papel do poeta na contemporaneidade?
Muito se tem falado sobre o papel do poeta na
contemporaneidade, será que ele deve ser apenas um artífice da palavra, um
ourives do signo linguístico, buscando a perfeição, o rebuscamento da poesia,
seu ritmo, sua estrutura?, ou o poeta é uma voz profética de sua época, que
grita ao mundo nas linhas vivas, frenéticas e rebeldes de sua produção?
(In)felizmente o poeta não é um fingidor, todo o seu corpo é
uma máquina pronta para captar os fatos da exterioridade, que são transformados
pela força interna do vate, que transforma tudo a sua frente em objeto poético,
tudo!
Os versos contemporâneos estão carregados do lirismo dos
loucos, dos bêbados, das prostitutas... a produção contemporânea embriaga-se com
uns goles de álcool numa mesa de bar, grita
silenciosamente no olhar dos mendigos, nos corpos mutilados, na corrida
frenética das grandes cidades, na velocidade voraz da produção humana... o
poeta contemporâneo é filho de Cronos, ele não tem como fugir dos dentes
afiados do tempo.
O poeta contemporâneo faz o signo linguístico gemer, suar,
gozar... faz a poesia gritar obscenidades, sussurrar incansavelmente pedido
mais, mais, mais... o poeta da contemporaneidade é um cafetão das palavras,
tira tudo que elas podem dar, mas não fica satisfeito com isso e, até
esbofeteia as palavras, deixando-as desfalecidas
no chão... mas também acaricia seus corpos e derrama o bálsamo nas feridas.
As mãos do produtor de poesia nos dias atuais carrega a rosa
e o artefato explosivo; as mãos do fazedor de versos derrama unguento, mas
quando necessário, abre cortes na carne com uma navalha afiadíssima: a poesia.
As mãos do poeta sabem fazer carinhos em toda a extensão corporal do texto arrepiar-se
de puro tensão... as mãos do poeta também pegam em armas e metralham
metaforicamente tudo que estiver pela frente.
Então, qual é o papel do poeta na contemporaneidade? É uma pergunta difícil de responder, o poeta
é o louco que acredita no poder da palavra, mas também chora as dores do mundo;
o poeta é um operário que volta para casa depois de um dia cansativo de
trabalho, porque carregou baldes e
baldes de concreto nas costas; o poeta é um pássaro cantando num fio de alta tensão
ou quem sabe, o poeta seja apenas um semeador de metáforas.
Evilásio Júnior
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